Rutaceae

Pilocarpus grandiflorus Engl.

Como citar:

Mary Luz Vanegas León; Marta Moraes. 2020. Pilocarpus grandiflorus (Rutaceae). Lista Vermelha da Flora Brasileira: Centro Nacional de Conservação da Flora/ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

VU

EOO:

129.697,425 Km2

AOO:

104,00 Km2

Endêmica do Brasil:

Sim

Detalhes:

Espécie endêmica do Brasil (Flora do Brasil 2020 em construção, 2019), com ocorrência nos estados: ALAGOAS, no município de Murici (Kallunki 373); BAHIA, municípios de Almadina (Kallunki 22), Cairu (Skorupa 4745), Entre Rios (s/c s.n.), Ilhéus (Skorupa 992), Itacaré (Piotto 1440), Maraú (Kallunki 2228), Una (Skorupa 2792), Uruçuca (Kallunki 3084); ESPÍRITO SANTO, municípios de Aracruz (Gomes 3925), Conceição da Barra (Ribeiro 972), Linhares (Kallunki 6069), Presidente Kennedy (Assis 1939).

Avaliação de risco:

Ano de avaliação: 2020
Avaliador: Mary Luz Vanegas León
Revisor: Marta Moraes
Critério: B2ab(ii,iii)
Categoria: VU
Justificativa:

Árvore de até 15 m de altura, endêmica do Brasil (Flora do Brasil 2020 em construção, 2019). Foi coletada em Floresta Ombrófila e Restinga associada à Mata Atlântica nos estados de Alagoas, Bahia e Espírito Santo. Apresenta EOO=108148 km² e AOO=96 km² e oito situações de ameaça. A agricultura é o principal responsável pela fragmentação do habitat, nos estados da Bahia e Espírito Santo a maioria das propriedades particulares são fazendas produtoras de cacau (Alger e Caldas, 1996; Landau, 2003; Paciência e Prado, 2005) e a maior parte do CEPE foi destruída devido à conversão do solo em campos de pastagem e plantações de cana-de-açúcar (Silva e Tabarelli, 2000; 2001). Além disso a região de ocorrência da espécie apresenta intensa especulação imobiliária (Simões e Lino, 2003). Não existem dados sobre tendências populacionais, porém possui potencial valor econômico, com capacidade de produzir pilocarpina, alcalóide com aplicação na oftalmologia (Skorupa, 2000; Lewis & Elwin-Lewis, 1977). Diante do exposto, infere-se declínio contínuo em extensão e qualidade de habitat, além de potencial redução no valor do AOO. Assim a espécie foi considerada Vulnerável (VU), demandando ações de pesquisa (tendências e tamanho populacional) e conservação ex-situ a fim de se garantir sua conservação na natureza.

Último avistamento: 2013
Quantidade de locations: 8
Possivelmente extinta? Não

Perfil da espécie:

Obra princeps:

Descrita em: Flora Brasiliensis 12(2): 137, t. 31, f. 1. 1874. (Fl. Bras.). As espécies do gênero são conhecidas por Jaborandi (Skorupa, 2000).

Valor econômico:

Potencial valor econômico: Sim
Detalhes: A espécie tem potencial valor econômico. O gênero Pilocarpus Vahl apresenta grande inter­esse econômico, devido à capacidade de produção de pilocarpina, um alcalóide imidazólico com aplicação na oftalmologia no tratamento de glau­comas primários (Lewis & Elwin-Lewis, 1977). Atualmente, a espécie mais explorada para a extração desse alcalóide é P. microphyllus Stapf ex Wahl.

População:

Detalhes: Não existem dados sobre a população.

Ecologia:

Substrato: terrestrial
Forma de vida: tree
Biomas: Mata Atlântica
Vegetação: Floresta Ombrófila (Floresta Pluvial), Restinga
Fitofisionomia: Floresta Ombrófila Densa, Vegetação de Restinga
Habitats: 1.6 Subtropical/Tropical Moist Lowland Forest, 3.5 Subtropical/Tropical Dry Shrubland
Detalhes: Árvores de até 15 m de altura (Skorupa 8335), ocorrendo no domínio da Mata Atlântica, em Florestas Ombrófilas e Vegetação de restinga (Flora do Brasil 2020 em construção, 2019).
Referências:
  1. Flora do Brasil 2020 em construção, 2019. Rutaceae in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB874>. Acesso em: 28 Nov. 2019

Ameaças (6):

Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.2 Ecosystem degradation 2.3 Livestock farming & ranching habitat past,present local high
O município de Murici com 42872 ha tem 15,7% de seu território (6752 ha) transformados em pastagem (Lapig, 2018). O município de Presidente Kennedy (ES) com 58393 tem 35004 (60%) de seu território convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Linhares com 350371 ha, possui 34% de sua área (117270 ha) convertida em pastagem (Lapig 2018).
Referências:
  1. Lapig, 2018. http://maps.lapig.iesa.ufg.br/lapig.html (acesso em 9 de Novembro de 2018).
  2. Lapig, 2019. http://maps.lapig.iesa.ufg.br/lapig.html (acesso em 18 novembro 2019).
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 2.1 Annual & perennial non-timber crops habitat past,present local high
O município de Murici com 42872 ha tem 19,3% de seu território (8277 ha) convertido em agricultura de cana-de-açucar e milho (Lapig, 2018).
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.2 Ecosystem degradation 7.1 Fire & fire suppression habitat,mature individuals, past,present local high
A prática de queimar os canaviais com a finalidade de diminuir a quantidade de palha e, desta forma, facilitar a colheita se consolidou na década de 1970, com o surgimento do Programa Nacional do Álcool. Ao contrário de outras regiões canavieiras do País, na região de Linhares (ES), os solos de tabuleiro passaram a ser cultivados com cana-de-açúcar apenas nas últimas décadas (Mendonza et al., 2000).
Referências:
  1. Mendonza, H.N.S., Lima, E., Anjos, L.H.C., Silva, L.A., Ceddia, M.B., Antunes, M.V.M., 2000. Propriedades químicas e biológicas de solo de tabuleiro cultivado com cana-de-açúcar com e sem queima de palhada. R. Bras. Ci. Solo, 24, 201-207.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.2 Ecosystem degradation 3.2 Mining & quarrying habitat,occurrence present,future local very high
A região ao redor do município de Linhares (ES) vem sendo ocupada por empreendimentos minerários, há documentos de processos recentes em andamento para autorização de pesquisa de áreas a serem mineradas (DNPM, SIGMINE, 2019). Essa região foi recentemente (2015) diretamente afetada pelo maior desastre ambiental causado por mineração, com o rompimento da barragem de Fundão no município de Mariana (MPF, 2017). Os efeitos do acumulo de minérios tóxicos no solo ainda estão sendo estudados, porém eventos similares na região podem destruir em um único evento milhares de hectares de Floresta Estacional Semidecidual na região, habitat preferencial da espécie, assim como ocorreu com florestas na região de Mariana (Do Carmo, 2017).
Referências:
  1. Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM. SIGMINE: Informações Geográficas da Mineração. http://sigmine.dnpm.gov.br/webmap/, (acesso em 08 de junho 2019).
  2. Ministério Publico Federal, 2017. Denúncia Apresentada contra mineradora SAMARCO pelo desastre ambiental provocado pelo rompimento da barragem Fundão, Autos do Processo de Denúncia.
  3. Do Carmo, F.F., Hiromi, L., Kamino, Y., Tobias, R., Christina, I., Campos, D., Fonseca, F., Silvino, G., Junio, K., Castro, X. De, Leite, M., Uchoa, N., Rodrigues, A., Paulo, M., Miranda, D.S., Eduardo, C., Pinto, F., 2017. Fundão tailings dam failures : the environment tragedy of the largest technological disaster of Brazilian mining in global context. Perspect. Ecol. Conserv. 15, 145–151. https://doi.org/10.1016/j.pecon.2017.06.002
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 2.1 Annual & perennial non-timber crops habitat past,present,future regional high
A área relativamente grande ocupada por categorias de uso do solo como pastagem, agricultura e solo descoberto, e a pequena área relativa ocupada por floresta em estágio avançado de regeneração revelam o alto grau de fragmentação da Mata Atlântica no Sul-Sudeste da Bahia (Landau, 2003; Saatchi et al., 2001). Grande parte das florestas úmidas do sul da Bahia estão fragmentadas como resultado da atividade humana realizadas no passado, tais como o corte madeireiro e implementação da agricultura (Paciencia e Prado, 2005). Estima-se que a região tenha 30.000 ha de cobertura florestal (Paciencia e Prado, 2005), 40.000 ha em estágio inicial de regeneração e 200.000 ha em área de pasto e outras culturas, especialmente cacau, seringa, piaçava e dendê (Alger e Caldas, 1996). A maioria das propriedades particulares são fazendas de cacau, o principal produto da agricultura (Paciencia e Prado, 2005), sendo a cabruca considerada a principal categorias de uso do solo na região econômica Litoral Sul da Bahia (Landau, 2003). Nas florestas litorâneas atlânticas dos estados da Bahia e Espírito Santo, cerca de 4% da produção mundial de cacau (Theobroma cacao L.) e 75% da produção brasileira é obtida no que é chamado localmente de "sistemas de cabruca". Neste tipo especial de agrossilvicultura o sub-bosque é drasticamente suprimido para dar lugar a cacaueiros e a densidade de árvores que atingem o dossel é significativamente reduzida (Rolim e Chiarello, 2004; Saatchi et al., 2001). De acordo com Rolim e Chiarello (2004) os resultados do seu estudo mostram que a sobrevivência a longo prazo de árvores nativas sob sistemas de cabruca estão sob ameaça se as atuais práticas de manejo continuarem, principalmente devido a severas reduções na diversidade de árvores e desequilíbrios de regeneração. Tais resultados indicam que as florestas de cabrucas não são apenas menos diversificadas e densas do que as florestas secundárias ou primárias da região, mas também que apresentam uma estrutura onde espécies de árvores dos estágios sucessionais tardios estão se tornando cada vez mais raras, enquanto pioneiras e espécies secundárias estão se tornando dominantes (Rolim e Chiarello, 2004). Isso, por sua vez, resulta em uma estrutura florestal drasticamente simplificada, onde espécies secundárias são beneficiadas em detrimento de espécies primárias (Rolim e Chiarello, 2004).
Referências:
  1. Alger, K., Caldas, M., 1996. Cacau na Bahia: Decadência e ameaça a Mata Atlântica. Ciência Hoje, 20, 28-35.
  2. Landau, E.C., 2003. Padrões de ocupação espacial da paisagem na Mata Atlântica do sudeste da Bahia, Brasil, in: Prado, P.I., Landau, E.C., Moura, R.T., Pinto, L.P.S., Fonseca, G.A.B., Alger, K. (Orgs.), Corredor de biodiversidade da Mata Atlântica do sul da Bahia. IESB/CI/CABS/UFMG/UNICAMP, Ilhéus, p. 1–15.
  3. Paciencia, M.L.B., Prado, J., 2005. Effects of forest fragmentation on pteridophyte diversity in a tropical rain forest in Brazil. Plant Ecol. 180, 87–104.
  4. Rolim, S.G., Chiarello, A.G., 2004. Slow death of Atlantic forest trees in cocoa agroforestry in southeastern Brazil. Biodivers. Conserv. 13, 2679–2694.
  5. Saatchi, S., Agosti, D., Alger, K., Delabie, J., Musinsky, J., 2001. Examining fragmentation and loss of primary forest in the Southern Bahian Atlantic Forest of Brazil with radar imagery. Conserv. Biol. 15, 867–875.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.2 Ecosystem degradation 1.3 Tourism & recreation areas habitat past,present,future national high
A Restinga é um ambiente naturalmente frágil (Hay et al., 1981), condição que vem sendo agravada pela forte especulação imobiliária, pela extração de areia e turismo predatório, além do avanço da fronteira agrícola, introdução de espécies exóticas e coleta seletiva de espécies vegetais de interesse paisagístico. A pressão exercida por essas atividades resulta em um processo contínuo de degradação, colocando em risco espécies da flora e da fauna (Rocha et al., 2007). Atualmente, a cobertura vegetal original remanescente da Região dos Lagos é menor que 10%(SOS Mata Atlântica, 2018). As Unidades de Conservação até então existentes, não foram suficientes e capazes de deter a forte pressão antrópica sobre os ambientes, especialmente pelas ações ligadas à especulação imobiliária e à indústria do turismo (Carvalho, 2018)
Referências:
  1. Hay, J.D., Henriques, R.P.B., lima, D.M., 1981. Quantitative comparisons of dune and foredune vegetation in restinga ecosystemsin the State of Rio de Janeiro, Brazil. Revista Brasileira de Biologia 41(3): 655-662.
  2. Rocha, C.E.D., Bergallo, H.G., Van Sluys, M., Alves, M.A.S., Jamel, C.E., 2007. The remnants of restinga habitats in the brazilian Atlantic Forest of Rio de Janeiro state, Brazil: Habitat loss and risk of disappearance. Brazilian Journal os Biology 67(2): 263-273
  3. SOS Mata Atlântica/ INPE, 2018. Atlas dos remanescentes florestais da Mata Atlântica. http://mapas.sosma.org.br/ (acesso em 8 de agosto 2018).
  4. Carvalho, A.S.R., Andrade, A.C.S., Sá, C.F.C, Araujo, D.S.D., Tierno, L.R., Fonseca-Kruel, V.S., 2018. Restinga de Massambaba: vegetação, flora, propagação, usos. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, RJ. 288p.

Ações de conservação (2):

Ação Situação
5.1.2 National level needed
A espécie ocorre em um território que será contemplado por Plano de Ação Nacional (PAN) Territorial, no âmbito do projeto GEF pró-espécies: todos contra a extinção: Território Espírito Santo - 33 (ES) e Território Itororó - 35 (BA).
Ação Situação
1.1 Site/area protection on going
A espécie foi registrada no Área de Proteção Ambiental Lagoa Encantada (US), Área de Proteção Ambiental Baía de Camamu (US), Parque Estadual Da Serra Do Conduru (PI), Área de Proteção Ambiental de Muricí (PI).

Ações de conservação (1):

Uso Proveniência Recurso
3. Medicine - human and veterinary natural leaf
A espécie tem capacidade de produção de pilocarpina, um alcalóide imidazólico com aplicação na oftalmologia no tratamento de glau­comas primários (Lewis & Elwin-Lewis, 1977).
Referências:
  1. Lewis, W. H.; Elwin-Lewis, M.P.F. 1977. Medical botany.plants affecting man's health. John Wiley & Sons, New York, 515p.